Embora não me agrade muito usar títulos como “advogado do futuro”, optei por valer-me de tal denominação com a intenção de ser melhor compreendida por todos que lerem este artigo.
Advogado 4.0, 5.0, do futuro, não importa o termo que desejamos usar, o propósito é identificarmos que estamos falando do “novo advogado” que nasceu há alguns anos diante das novas necessidades do mercado.
Os termos 4.0 e 5.0 estão intimamente relacionados com o advento da internet e da hiperconexão. A tecnologia e o uso de ferramentas tecnológicas está presente em todas as áreas de um negócio jurídico, seja escritório ou departamento em uma empresa, e o advogado inserido neste contexto necessita ter uma visão muito mais estratégica e, cada vez mais, aquele que só se preocupa com leis e teses jurídicas perde espaço.
Enquanto na advocacia 4.0 o foco era na produtividade e automação dos processos através da adoção de tecnologia para redução de burocracias, trabalho e erro humano, principalmente nas atividades repetitivas, a advocacia 5.0 dá enfoque à humanização do atendimento jurídico e necessidades humanas.
Já a advocacia do futuro, que já está sendo vivida há algum tempo e deverá perdurar, engloba este avanço tecnológico e humanizado já mencionados, sem perder de vista as novas habilidades que são cada vez mais uma condição para que um profissional do direito tenha sucesso. As novas soft skills vão além da mera técnica jurídica e são representadas por competências que dizem respeito a uma visão gerencial mais aprimorada em conjunto com características que se preocupam com um melhor relacionamento interpessoal, seja com seus pares, clientes, fornecedores, judiciário etc.
Enfim, este é o contexto e o conceito que trago sobre o que chamei de “advogado do futuro” no título deste artigo. Ou seja, o advogado do futuro representa o perfil do advogado que sobreviverá aos dias de hoje e alcançará ou se manterá em posição de destaque nos próximos anos e que necessariamente desenvolveu habilidades que outrora não eram importantes, mas que hoje são vitais.
Agora sim vamos ao ponto de reflexão deste texto: este novo perfil de advogado comporta profissionais que se dedicam exclusivamente à prestação de serviços jurídicos, ou para integrar o novo grupo de sucesso é necessário ir além e investir na prestação de serviços que não são os jurídicos propriamente ditos?
Serviços jurídicos propriamente ditos
- Atuação em processos judiciais ou administrativos
- Assessoria jurídica (aconselhamento, suporte em reuniões etc.)
- Consultas e pareceres
- Elaboração, análise e gestão de contratos
- Diligências
Serviços não jurídicos prestados ao mercado jurídico
- Infoprodutos
- Coaching jurídico
- Mentoria jurídica
- Consultoria, assessoria e cursos em gestão legal e marketing jurídico
Note que sequer listei a docência como um serviço não jurídico, pois, para efeitos desta reflexão, não cabe sua análise.
Conhecendo uma lista dos serviços jurídicos propriamente ditos e dos não jurídicos, cabe-nos analisar se é possível um advogado manter-se atuando somente com o primeiro rol ou não.
Vamos então entender melhor o que seriam cada um destes serviços não jurídicos que atualmente muitos advogados incorporaram em seu portfólio.
Os infoprodutos são conteúdos digitais didáticos produzidos com o intuito de transmitir conhecimento sobre algum assunto, como: e-books, videoaulas, cursos online, webinares, podcasts entre outros. Eles podem ser distribuídos gratuitamente ou não e são uma considerável fatia do setor de e-commerce.
Para efeitos desta classificação estamos considerando os infoprodutos que fazem parte do portfólio de serviços do advogado, ou seja, somente aqueles que são vendidos e incorporados na receita do negócio.
A produção de conteúdo não é essencialmente um serviço, mas sim um método de divulgação da expertise do advogado ou escritório. Portanto, os infoprodutos, por exemplo um podcast ou um ebook, cuja finalidade é levar ao público-alvo que poderá contratar um serviço jurídico um conteúdo para que ele entenda a autoridade do escritório naquele tema, não é considerado um serviço.
O Coaching e a Mentoria são serviços de apoio ao advogado prestados por outro advogado. Enquanto a Consultoria em gestão e marketing não necessariamente são prestados por advogados, mas aqui é o que nos interessa, pois esta atuação se mostra como mais uma possibilidade de serviço não jurídico prestado por advogados aos advogados (escritórios ou departamentos).
Voltemos à reflexão proposta: um advogado que deseja ter sucesso pode focar apenas nos serviços jurídicos propriamente ditos?
É claro que sim!
Aliás, alguns serviços não jurídicos podem, inclusive, conflitar com os serviços jurídicos a depender da área e da clientela.
Além disso, como encontrar tempo e disposição para estudos e experiências nas duas vertentes para que realmente faça a diferença em sua atuação, se a grande maioria de nós inicia estas jornadas sem muito suporte devido aos custos que ele nos gera?
É verdade que conheço algumas exceções de profissionais que advogam e vendem serviços não jurídicos e se dão bem nos dois negócios, entretanto, estas exceções que conheço são amparadas dos dois lados por uma estrutura de suporte bem montada. Sinceramente não sei ao certo com o que eles iniciaram, mas a julgar pela “fama”, acredito que primeiro se tornaram marcas jurídicas fortes para depois ensinarem aquilo que aprenderam ao longo de suas carreiras a outros advogados.
Aliás, esta trajetória de sucesso em serviços jurídicos para posterior prestação de serviços não jurídicos a outros advogados, nos leva a outros pensamentos…
Sabemos que a mentoria é uma orientação, uma direção dada por um mentor, a alguém menos experiente. Portanto, pressupõe que o mentor seja alguém mais experiente, alguém que já tenha percorrido aqueles passos do mentorado e logicamente logrado êxito em sua trajetória.
Já o coaching jurídico, embora tendo o mesmo intuito da mentoria em auxiliar os advogados em seu desenvolvimento profissional, acaba se valendo de técnicas, conceitos e ferramentas de coaching usadas em outros ramos, portanto percorre uma metodologia mais estruturada que a mentoria, mesmo que nesta haja um plano bem definido de trabalho.
As consultorias em gestão e marketing requerem conhecimentos profundos em ramos alheios ao jurídico, experiências, cases, relacionamentos e muita dedicação.
Os infoprodutos podem ser construídos para a entrega de mentoria, coach e consultoria em gestão e marketing ou em temas jurídicos propriamente ditos, ou seja, com a finalidade de ensinar advogados menos experientes a advogarem, como se comportarem em uma audiência, em uma sustentação oral, como fazerem um inventário, como atuarem no agronegócio ou com startups, por exemplo.
Então vamos voltar a alguns tópicos já tratados por nós anteriormente em outros artigos: Quais são os seus objetivos? O que você oferece ao mercado? Quem é o seu público-alvo? Como você impacta o mercado?
Não tenho dúvidas de que é sedutora a ideia de ter fama entre os colegas advogados por entender de temas que são periféricos ao universo jurídicos, ou por prestarem serviços para eles. Mas o ponto aqui é: o esforço para conquistar este destaque irá aproximá-lo ou distanciá-lo dos seus objetivos?
Cuidado para não se perder. Hoje temos muitos caminhos atraentes que fazem muitas curvas. Pare, analise e calcule se este desvio de rota irá realmente ajudá-lo a alcançar seus objetivos, ou se apenas fará bem para o seu ego enquanto o distancia deles.
Lembre-se sempre que pode optar por migrar de atuação, ou seja, se se sente melhor prestando serviços para outros advogados e entende que com eles conseguirá alcançar seus objetivos, inclusive financeiros, talvez devesse se dedicar exclusivamente a eles. Isso é uma movimentação de carreira normal, assim como pode transitar por áreas e especialidades na prestação de serviços jurídicos ao longo do tempo.
Se você está tentando se firmar ao mesmo tempo como advogado (que presta serviços jurídicos) e prestador de serviços para outros advogados, olhe para trás, veja como tem sido sua trajetória, o que cada atuação já retornou para você, o que realmente gosta de fazer e conclua se, para alcançar seus objetivos, será possível seguir com as duas linhas ou se deverá optar por apenas uma delas e focar em fazer diferença para apenas um público.
Dizer não é uma arte. Ter foco é um diferencial. Planejar é necessário.
Portanto, antes de ir se envolvendo em vários projetos, tenha certeza de que eles convergem para seus objetivos. Cuidado para não desperdiçar seu precioso tempo com algo que não o conduz à sua realização, seja financeira ou de missão de vida.
Mas o que tudo isso tem a ver com o marketing jurídico?
Ora, aqueles que acompanham meus conteúdos sabem que entendo que o marketing jurídico é muito mais que a divulgação de profissionais e serviços e que sua atuação se inicia nas definições estratégicas do negócio e do advogado. Logo, definir qual será a atuação do advogado, como ele impactará o mercado e irá firmar sua marca, são algumas das responsabilidades da execução de um bom plano de marketing.
Sei que este texto ficou circular, indo e vindo nos conceitos e reflexões, mas foi necessário construí-lo desta maneira para que eu pudesse conduzi-lo em minhas ponderações. Espero que tenha gostado do tema e das análises!
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